14 de julho de 2010

...a primeira coisa que faria seria parar. Depois, pensar e, finalmente, agir.


Paula e eu decidimos fazer juntos um curso de contação de histórias. Essa decisão foi tomada porque gostamos de ouvir e contar histórias um para o outro e para os nossos filhos; porque eu vivo de contar histórias; porque o curso em si mesmo seria uma boa ferramenta de autodesenvolvimento; e porque era algo que poderíamos fazer juntos, como casal.

Dura nove meses e é realizado pela Fundação Gilberto Freire/Grupo Zumbaiar. Estamos no quinto mês e adorando.

Como "prazer de casa", a gente tem que ler algumas coisas e entre elas eu peguei pra ler esse livro do Ilan Brenman, que contêm vários contos africanos, asiáticos etc. Me deparei com essa lenda, que transcrevo para vocês.

O Imperador e a águia
(lenda asiática)


Há mais de 800 anos, existiu um grande Imperador chamado Gêngis Khan. Seu poder e inteligência eram conhecidos por muitos que viviam naquela época; seus territórios estendiam-se por centenas de quilômetros.

Quando não estavam guerreando, o Imperador adorava ficar no seu suntuoso castelo. Seu passatempo preferido era caçar com sua águia, um animal muito bonito, pelo qual tinha uma grande afeição.

Certa manhã de verão, o Imperador decidiu que queria caçar; convocou os amigos, os escravos e, apenas com um assobio, chamou sua águia. Ela logo posou em seu braço.

Quando se encaminhavam ao campo da caçada, o Imperador movimentou lentamente o braço. A águia reagiu imediatamente levantando vôo; planou por alguns instantes no ar e, como uma flecha, deu um rasante em direção ao chão. Um pequenino coelho tinha sido capturado.

Gêngis Khan ficou o dia todo caçando. No final da tarde, decidiu que queria voltar sozinho para o seu castelo; gostaria de refletir um pouco sobre sua vida, sua família e sobre a próxima guerra. Dispensou os amigos, os escravos. A águia, como lendo o seu pensamento, levantou vôo e foi embora.

O Imperador andava devagar; refletia sobre diversos assuntos. Depois de uma hora caminhando, percebeu que havia esquecido o cantil com água. E sem água, naquele verão era morte na certa.

O grande soberano conhecia, como a palma de sua mão, a região em que estava. Procurou rios, secos. Procurou lagos, secos. Desesperado começou a correr. Avistou uma rocha da qual deslizava um líquido; só podia ser água.

Morrendo de sede, pegou seu copo, aproximou-se da rocha e esperou que ele enchesse. A água caía gota a gota.

Quando o copo estava praticamente cheio, trouxe à sua boca. De repente, sua águia apareceu do nada, e com muita rapidez derrubou o copo no chão.

Gêngis Khan não estava compreendendo o que a sua águia estava fazendo: dava voltas no céu, gritando sem parar.

Ele recolheu seu copo, aproximou-se novamente da rocha e, depois de um bom tempo conseguiu enchê-lo novamente. E, pela segunda vez, a águia apareceu e derrubou o copo.

Gêngis Khan ficou furioso, olhou pro céu e gritou:

–Da próxima vez, eu a mato, juro!

O Imperador tomado pelo ódio, recolheu o copo com uma das mãos; com a outra, segurou o punhal. Aproximou-se da rocha. Poucas gotas caíram agora; conseguiu enchê-lo apenas pela metade. E, pela terceira vez, a águia deu um rasante e, mais veloz que uma flecha, derrubou novamente o copo. Mas desta vez, tão rápida quanto a ave, a mão do Imperador conseguiu agarrá-la no ar, apertando seu pescoço. Sem pensar duas vezes, cravou seu punhal no peito do animal.

Gêngis Khan jogou a águia no chão. Do coração do animal, o sangue jorrava sem parar.

– Eu avisei! Eu avisei! – Gritava o Imperador.

A sede que estava insuportável fez o Imperador voltar-se para a rocha. Nenhuma gota mais caía. Ele, então, teve uma idéia: talvez a água viesse do topo.

Escalou a rocha, chegou ao topo e viu que tinha razão. Havia uma poça de água muito cristalina lá em cima. Ao olhar atentamente para o fundo da poça, Gêngis Khan viu, espantado, uma cobra venenosa morta; seu veneno mortal escorria rocha abaixo.

Uma tristeza gigantesca apoderou-se da alma de Gêngis Khan. Ele tinha acabado de matar seu querido animal, e esse animal tinha acabado de salvar a sua vida.

Com os olhos cheios de lágrimas, o Imperador desceu a rocha, enterrou sua águia e tirou uma conclusão de todo esse acontecimento: toda vez que ele tivesse novamente raiva na vida, a primeira coisa que faria seria parar. Depois, pensar e, finalmente, agir.

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